terça-feira, fevereiro 04, 2003

Sem internet e sem tv a cabo, sem livros pra ler (na verdade eu tenho, mas estou com preguiça), resolvi contar uma ópera (Turandot) no estilo Marcureliense. Claro que não chego aos pés dele, mas vou tentar. Uma ópera é difícil de contar neste estilo, pois existe muita intercalação de diálogos. Vamos ver a merda que dá.

Esta Turandot foi composta por Giacomo Puccini, com libreto de Giuseppe Adami e Renato Simoni com base na fábula de Gozzi. Tem 3 atos e Puccini não chegou a terminá-la. Chegou até um pedaço do 3o ato (Não vou ser específica para não estragar o final :D ). Quando da estréia, em 1926, o regente baixou a batuta no trecho citado acima e disse : "Qui il Maestro è morto". Depois acharam 23 páginas com o esboço do dueto final e Franco Alfano então escreveu o final.

Existe uma outra Turandot, mas agora me escapa o compositor e eu estou sem internet para pesquisar. Mas eu nunca ouvi.
A versão de Puccini é a mais conhecida e minha ópera favorita. Tenho em VHS a montagem do Metropolitan Opera House com Plácido Domingo e Eva Marton. E esta mesma montagem, com outros cantores, eu vi em Nova Iorque, em meio a lágrimas por estar ali, em um dos templos da ópera, vendo minha ópera favorita, do meu compositor de óperas favorito e reconhecendo o cenário.

Para quem não está muito acostumado com os termos, compositor é quem faz a trilha sonora e libreto seria o "roteiro". As personagens são : Turandot, uma princesa; Imperador Altoum, pai de Turandot; Timur, rei exilado da Tartária; um príncipe, filho de Timur (o nome eu só conto depois, porque faz parte da narrativa este desconhecimento); Liù, jovem escrava; Ping, grande chanceler da China; Pang, ministro das provisões; Pong, ministro imperial da cozinha (!!! eu não sabia que existia ministro da cozinha). E há figurantes : o Mandarim (arauto), o Príncipe da Pérsia, Pu-Tin-Pao (o carrasco que entra mudo e sai calado) e o povo.

"Turandot é uma adaptação de antigo conto de fadas sobre a princesa oriental que matava todo aquele que a amava. A beleza de Turandot é lendária, e dos países mais distantes acorrem a Pequim os pretendentes. Antes de se aproximarem dela, no entanto, devem submeter-se a um teste. Se conseguirem solucionar três enigmas, obterão a mão da princesa e, com ela, o trono da China. Se falharem, estarão condenados à morte".
(extraído de Kobbé - O Livro Completo da Ópera - organizado pelo conde de Harewood - Jorge Zahar Editor)


ATO I
Cena I


É noite na antiga cidade de Pequim. O povo está nas ruas esperando para ver se o príncipe de Pérsia passou ou não no teste. O arauto chega e anuncia :

- Ae povo! O negócio é o seguinte: Turandot só vai dar pro cara que tiver cérebro o suficiente para responder a três charadas. Dessas "O que é, o que é", sabe? Só quem tem sangue real pode participar, afinal ninguém quer um plebeu no trono né? Se o dito não conseguir responder, se fudeu: vai ser decapitado.
E agora, o que era mesmo que eu tinha de falar? Ah, é. Então, Lombardi! O Príncipe da Pérsia vai perder a cabeça ou não vai?!?!
Vai!!!! Quando a lua aparecer no céu o carrasco vai fazer o espetáculo que vocês tanto gostam.

- Uhu!!! SSSAAANNNGGGUUUEEEE. Vamos logo pro palácio. Ô Pu-Tin-Pao, levanta cara! Tá na hora de trabalhar. Queremos SSSAANNNNGGGUUUEEE! (Lembraram de deus?).

Os guardas do palácio não gostam muito da bagunça não...
- Ô Povinho besta! Vai fazer zona mais pra lá. Olha que a gente joga gás em vocês, hein?
- Ai meu pé!
- Não empurra!
- Pára, cacete!

Neste empurra-empurra um velho cai no chão. A mocinha raquítica que está com ele não consegue erguê-lo e pede ajuda:
- Alguém aí quer fazer o favor de me ajudar a levantar o meu patrão?

Um moço ouve isso e vai ajudar.
- Pai! Meu pai! Mó tempo que eu não te vejo. Será que estou sonhando? Não. É você mesmo, coroa. Mó legal. Valeu deus. Depois de tanta porrada no passado é bom receber um presente assim.

O velho está cego mas reconhece a voz do filho.
- Filhão!! Você tá vivo!
- Fala baixo, pai. O feladaputa que deu o golpe de estado e roubou o teu trono ainda está me procurando e tá na tua cola. Não tem lugar seguro pra gente.
- Faz tempo que eu tô te procurando, filho. Porque não ligou? Não mandou um e-mail? Eu achei que você tinha sido seqüestrado, morto, sei lá.
- Mas falae, pai. Como é que você chegou aqui?
- Vou ter que gritar, porque este povo tá feliz, não? (Uhu! Lá vem o carrasco. Morra príncipe! Morra! Morra!). Depois que nós perdemos a batalha eu virei um rei sem trono e sem reino. Tentei entrar no MST - Movimento dos Sem Trono - mas é muito trabalho ficar fazendo passeata pra cá e pra lá e tronos estão escassos hoje em dia. Eu estou muito velho. Bom... eu, um ST e cego no meio do tiroteio ouvi alguém falando pra mim : "Vem cá, eu te guio". Era a Líu, esta mocinha raquítica. Eu estava um caco, mas ela enxugou minhas lágrimas e foi nos sinaleiros pedir esmola pra mim.
- Demorô, Liu! Quem é você?
- Ninguém, nada... uma escrava. (Ela sofria de complexo de inferioridade pelo jeito).
- E o que deu em você pra ajudar um velho?
- Porque uma vez, lá no palácio, você sorriu pra mim. (Que guria burra!)

Enquanto isso os responsáveis pela execução estão amolando a lâmina e o povo conversando e cantando:
- Põe mais óleo. Vamos ver a lâmina brilhar, soltar faísca e sangueee!!! Uahuhauhaahuha. Empreguinho bom este, nunca vai faltar trabalho.
- Venham, "amantes", que nós estamos prontos pra tirar a pele de vocês.
- Vê só: o cara vai lá, toca o gongo pra dizer que quer participar do teste. Aí aparece a linda e justa (justa?!?!?!) Turandot, fria como a espada. Quando o gongo soa o carrasco quase tem um orgasmo, porque não adianta querer a mulher, tem de ter sorte. Porque são 3 enigmas e só uma vida.
- Quem será que vai ser o próximo a tentar?
- Morte! Morte! Morte!
- Uhuuuuuu

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